Em qualquer sociedade são constantes as mudanças de comportamento. Costumes que em determinado período parecem uma febre, de repente se tornam escassos ou simplesmente desaparecem. Trazendo para o campo musical, a seleção de lentas em bailes para adolescentes é um exemplo dessas transformações. Garotas e garotos de hoje em dia não conhecem nem a expressão “ dois pra lá, dois pra cá ” que identifica o movimento do corpo. Durante as décadas de 70 e 80, todo baile reservava um espaço para que o clima ficasse mais romântico entre a juventude. E o bloco com músicas lentas não era restrito a festas que tocavam o gênero popular. Artistas ligados a discoteca, funk, New Wave e até rock gravavam pelo menos uma canção que servia para meninos e meninas experimentarem a sensação de dançarem juntinhos.
Quando as luzes coloridas do salão se apagavam e a iluminação ficava fraca, começava o momento mais aguardado e temido da noite. Enquanto os namorados aproveitavam a intimidade de estarem abraçados desde os primeiros acordes, os outros passavam por um turbilhão de sentimentos. A expectativa do convite para dançar. A ansiedade para que o pedido não demorasse . A alegria de ser a pessoa certa e a decepção de ser a errada. E em meio a tudo isso, garotos aflitos, pois cabia a eles, na maioria dos casos a responsabilidade de se aproximar , e nessa hora, o medo era de ser rejeitado e ficar sem graça.
A seleção de música lenta podia deixar os adolescentes ainda mais alegres ou preocupados, isso porque ela também tinha espaço nas festas que aconteciam nas casas, o que significava ficar sob o olhar de pessoas conhecidas. Esses encontros geralmente eram marcados para o sábado a noite e reuniam colegas de escola . Tudo começava com alguém oferecendo o quintal, porão ou garagem. Na sequência era necessária a autorização dos pais. Pra conseguir a liberação, não podia faltar a promessa de não estragar nada, de fazer tudo com cuidado, de acabar cedo e de convidar poucas pessoas. Diga-se de passagem, dificilmente esses compromissos eram cumpridos.
Nas festas caseiras sempre havia alguém interessado em bancar o DJ e escolher as músicas. Como estamos falando de uma época sem as facilidades do computador , todos podiam colaborar, meninos e meninas levavam os discos para aumentar o repertório. Dois aparelhos de som ajudavam na mixagem para que não houvesse a necessidade de esperar os espaços entre as faixas do vinil. As vezes surgiram fitas cassetes com uma seleção de pelo menos trinta minutos já montadas, evitando assim que o casal se separasse nos possíveis espaços entre as faixas.
Os adolescentes do século XXI desconhecem o prazer da dançar a dois. Salões regularizados raramente permitem a entrada de menores de 18 anos, e mesmo quando isso acontece, não existe a seleção de música lenta. A outra opção parece inviável com a violência da atualidade, afinal ninguém quer correr o risco de abrir a casa para fazer uma festa. Como a realidade de garotos nos tempos atuais é diferente da vivenciada nas décadas de 70 e 80, eles passam por uma etapa importante da vida sem experimentar o prazer de dançar de rosto colado.
O quadro Musica é Cultura relembra a fase em que era comum a seleção de canções lentas nos bailes.
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Apresentação
Robson Santos
produção
Walmir Bortoletto
edição
Paulo Girardi