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Sem especialistas ou cientistas, Câmara discute uso de kit covid

Foto: Reprodução/TV Câmara

A Câmara de Campinas recebeu nesta quinta-feira, 15, um grupo de políticos para discutir o uso do chamado kit covid no sistema público de saúde. Entre os convidados, estava o prefeito de Chapecó/SC, João Rodrigues, entusiasta do chamado tratamento precoce, que não tem comprovação científica. O chefe do executivo catarinense relacionou o uso do kit no município à redução de casos, mesmo adotando outras medidas, com um lockdown parcial. Também estiveram presentes representantes do movimento Unidos Pela Saúde, empresários e médicos.

Até abril deste ano, o posicionamento das principais autoridades de saúde e medicina do mundo era de que não existe tratamento precoce contra covid-19 e nem remédios que previnem contra a infecção ou desenvolvimento da doença. Esse posicionamento é chancelado pela Organização Mundial da Saúde, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, pela Agência Europeia de Medicamentos, pela Sociedade Brasileira de Infectologia e pela Anvisa. O presidente da Câmara de Campinas, Zé Carlos, afirma que a ideia é levar a discussão para o executivo municipal, com o objetivo de promover os medicamentos do kit para atendimento na pandemia. Ele próprio disse que se contaminou, fez uso dos medicamentos e se recuperou da covid-19.

Porém, autoridades de saúde do município questionaram a realização do debate virtual, sem que nenhum especialista ou cientista que trabalha com pesquisa relacionada à covid-19 tenha sido convidado. O professor e médico epidemiologista, que atua na linha de frente contra a covid-19 em Campinas, André Ribas Freitas, disse que o encontro político para tratar temas relacionados à saúde pública, sem a presença de especialistas, é estarrecedor. Ele classifica a postura da Câmara como uma chacota com os estudiosos da área de saúde. “A gente tem no município de Campinas três faculdades de medicina da melhor qualidade, com profissionais do mais alto nível e que não são consultados. As decisões são feitas numa câmara de vereadores, que é um espaço não técnico, é um espaço político. Então é quase uma ironia, é quase uma chacota, com todos os técnicos, estudiosos do assunto”, critica.

Durante a reunião, o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, afirma que apenas atendeu a orientação do presidente da República, Jair Bolsonaro, e está dando a liberdade aos médicos, para que adotem o tratamento que julgarem necessário. Ele afirma que disponibolizou um ambulatório específico para o atendimento da população com síndrome gripal, onde o kit covid é ministrado. “Nós aqui, como disse o presidente Bolsonaro, demos liberdade para o médico cuidar do paciente. E total apoio irrestrito para os profissionais que defendem o tratamento precoce e o tratamento imediato. Tanto é que nós, deste grupo de médicos que defende esse tratamento precoce, imediato, formamos um grande ambulatório específico, só com esses profissionais, com uma grande estrutura, e ali nós mandamos os pacientes com sintomas gripais fazerem os seus testes e automaticamente, também receber a medicação”, explicou.

O presidente da Câmara de Campinas, Zé Carlos, disse que convidou um número grande de pessoas, mas infelizmente pouca gente quis participar. Ele negou com veemência que o encontro virtual tenha algum viés ideológico e disse que apenas faz o papel que deve ser exercido por uma câmara municipal. Isso é um dever da casa. Nossa Câmara Municipal é política e é aqui que se faz o debate. Nós aqui não estamos privilegiando nem quem a favor e nem que é contra. Convidamos várias pessoas, mas infelizmente tem muitos que não querem se expor. Acham que, ou por ser a favor ou contra, vai se expor, porque a gente sofre com isso. Mas a nossa casa, a nossa Câmara Municipal de Campinas, não vai fugir a esse debate que é tão importante. É o que nós procuramos aqui: fazer o que a população quer e o que a população merece. Então nós não estamos puxando nem para um lado e nem para o outro. Então quem quiser participar, esteja à vontade”, afirmou.

A Prefeitura de Campinas informou que não indica o uso do kit covid em nenhuma hipótese. Há diversos estudos mostrando que é ineficiente e mais de 80 entidades médicas já vetaram o seu uso, já que o kit apresenta efeitos colaterais que levam a quadros de insuficiência hepáticas. A prefeitura ressalta ainda que não há tratamento precoce para a covid-19. No dia 25 de março, em coletiva online na prefeitura, o secretário de saúde de Campinas foi enfático em sua análise sobre o uso dos medicamentos. Segundo Lair Zambon, essa discussão não existe em nenhum lugar do mundo. “Em relação ao kit covid, que é como o prefeito disse, bastante polêmico. Mas ele é só polêmico no Brasil. Essa conversa não existe no mundo. Bom, se não existe no mundo e a pandemia é mundial, é porque alguma coisa tem. Claro, é exatamente porque não funciona. Mais de 80 entidades médicas já vetaram o uso do kit covid. O próprio fabricante de um dos componentes do kit covid, (foi) claro para falar que para a doença não funciona”, disse na ocasião.

Apesar da Câmara de Campinas apresentar a reunião como debate público, o encontro virtual reuniu apenas participantes favoráveis a utilização do kit covid. O próprio presidente da Casa, Zé Carlos, disse que se disponibilizaria em ouvir pessoas que são contrárias ao chamado tratamento precoce.

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