Um dos gênios da ciência, um pesquisador obstinado e um mestre na difusão de informações, Louis Pasteur tem sua vida e obra revisitadas na mostra “Pasteur, o Cientista”, no Sesc Campinas, a partir de 23 de junho de 2021. A abertura virtual será transmitida pelos canais Sesc SP e Sesc Campinas, às 20h30, com a participação dos pesquisadores Hugo Fernandes e Pedro Hallal, que irão refletir sobre “A importância da ciência para o desenvolvimento de um projeto de saúde”, com mediação da médica sanitarista Sílvia Santiago.
A exposição será aberta ao público no dia 24 de junho, quinta-feira, com visitas presenciais gratuitas de terça-feira à sexta, às 10h30, 13h30, 16h, 18h; e aos sábados, às 10h30 e às 12h30. Seguindo todas as recomendações de segurança sanitárias e com quantidade limitadas de pessoas, as visitas serão feitas por meio de agendamento neste link: Agenda Exposição Pasteur, O Cientista. A exposição, organizada e concebida pela Universcience – órgão do Ministério da Cultura da França, é uma realização no Brasil do Sesc SP, com patrocínio do Magazine Luiza e apoio da Embaixada da França no Brasil.
A mostra faz uma permanente contextualização da trajetória de Louis Pasteur, principalmente em relação aos acontecimentos da Europa e às descobertas do chamado século das invenções – em que surgiram o trem, a fotografia e o cinema, os motores a explosão, dirigíveis, telégrafo, telefone, iluminação pública e tantos outros símbolos da modernidade. Mais que tudo, Pasteur, o Cientista traz à discussão a valorização da ciência e da História como elementos constituintes não somente da memória e da identidade, mas como a mais sólida base para o crescimento e o desenvolvimento da humanidade.
Quem foi Louis Pasteur
Pasteur, nascido no interior da França em 1822, de uma família de curtidores de couro, fez avançar a Química e a Medicina no século XIX e, como um dos criadores da Microbiologia, redefiniu horizontes ao provar que existem micro-organismos e como eles se reproduzem, proliferam, colonizam outros organismos e são responsáveis pelas doenças infecciosas.
Estudou germes, vírus, fungos e demais “seres infinitamente pequenos”. Estabeleceu, assim, novos paradigmas para as ciências e novos procedimentos inclusive para a Medicina, salvando incontáveis vidas ao introduzir a assepsia nos cuidados com doentes. Antes disso, era comum que os médicos sequer lavassem as mãos nos atendimentos.
Pesquisador respeitado entre seus pares – era de um extremo rigor nos métodos -, ganhou fama mundial também junto ao grande público ao descobrir a vacina contra a raiva, em 1885. No Brasil, tinha muitos seguidores e admiradores, entre os quais o imperador Pedro II. Oswaldo Cruz foi um dos cientistas que trabalharam na esteira de suas realizações.
Ciência Aplicada à Vida Prática
Pasteur não foi o primeiro nem a o único a criar uma vacina, mas sua pesquisa e a aplicação da antirrábica o transformou em símbolo da imunização. Era um cientista com visão aplicada: trabalhou na pesquisa ligada à indústria e a atividades econômicas importantes, aperfeiçoando métodos de cultivo e processamento de indústrias importantes como as do vinho, da seda e de animais de corte. Resolveu problemas logísticos – seu nome batiza o processo de conservação de alimentos batizado como pasteurização – e salvou atividades econômicas prejudicadas por pragas.
Foi também um brilhante comunicador – hoje, diria-se um ser midiático. Sabia chamar a atenção da comunidade científica e da população para assegurar que suas descobertas chegassem ao maior número possível de pessoas, com demonstrações públicas e grandiloquentes de suas descobertas. “Para provar ao público reunido na Sorbonne que as bactérias estavam por toda parte, mesmo no ar, ele direcionou um projetor de luz para iluminar os grãos de poeira”, ri Astrid Aron, museógrafa da exposição.
Era também um empreendedor, registrando patentes e criando empresas para explorar suas descobertas. “Seu principal objetivo não era reunir uma fortuna, mas assegurar fundos para prosseguir com as pesquisas” explica o curador científico Maxime Schartz, ex-diretor geral do Instituto Pasteur. “Podemos até dizer que Pasteur era uma espécie de precursor das start-ups de hoje”, conclui. A fama conquistada pela vitória contra a raiva, com a vacina pioneira em 1885 permitiu que levantasse fundos internacionais para fundar, três anos depois, o Instituto Pasteur, com braços pelo mundo, para disseminar a imunização.
Exposição dividida em atos:
As descobertas da ciência por meio de experiências interativas
“Pasteur, o Cientista” celebra vida e obra do gênio através de vídeos, grafismos, animações, projeções, textos e desenhos. A mostra estreou no Palais de la Découvert, em Paris, em dezembro de 2017, ficando em cartaz até agosto de 2018. Ali, o visitante não apenas conhece a ciência do século XIX – época de desenvolvimento e inovações – mas revive as descobertas de Pasteur em experiências interativas. Estruturada em seis atos, como uma peça de teatro, a exposição apresenta as descobertas de Pasteur em ordem cronológica: da solução de um enigma químico – cristais de ácido do vinho aparentemente iguais reagiam à luz de forma diferente – até a vitória contra a raiva, doença até então incurável.
Um busto de Pasteur recebe os visitantes e, sobre ele, é projetado um videomapping – imagens em 3D – enquanto a voz de Marie Pasteur narra a trajetória do marido. Uma curiosidade – o considerável talento artístico do pesquisador quando jovem é mostrado na reprodução de telas pintadas entre os 13 e os 20 anos. Seguem-se ambientes em que filmes, aparelhos, mecanismos, jogos de charadas, vitrines mágicas e instrumentos de época desfilam as descobertas de Louis Pasteur na Química, no trabalho com os micro-organismos e na imunização de animais e seres humanos.
O visitante pode entender, por exemplo, a pesquisa da vacina antirrábica num filme de animação em que uma menina, espiando da casa vizinha à do laboratório, acompanha os testes de Pasteur em coelhos; entende, através de um “microscópio”, como micro- organismos podem sobreviver sem oxigênio; espia pelo gargalo de garrafas de vinho para descobrir os segredos da fermentação da bebida; decifra junto com Pasteur o segredo dos “pastos malditos”, locais onde rebanhos inteiros morriam de antraz, entre outras atividades.
No final, um módulo especialmente produzido faz a ligação de Pasteur com o Brasil: pesquisas desenvolvidas por aqui, a admiração de D. Pedro II pelo cientista, o desenvolvimento nacional da produção de vacinas pelos Institutos Butantan e Oswaldo Cruz. “O trabalho de Pasteur”, conclui Maxime Scwhartz, “pode estimular que as crianças entendam e amem a ciência. Acho que é uma meta que devemos manter em nossas cabeças e corações”.
A Mostra – Ato a Ato
PRÓLOGO – Busto de Pasteur recebe os visitantes com projeções de videomapping. Um grande ciclorama pontua a história cultural do século 19.
ATO 1 – CRISTAIS E DISSIMETRIA (1847-1857)
O início de tudo: aos 21 anos, Pasteur decide – e consegue
– resolver um mistério da ciência. Aqui, filme, experiência ótica e jogo de classificação ajudam a entender o processo.
ATO 2 – FERMENTAÇÕES (1857-1876)
Pasteur e os micro-organismos da fermentação: como o cientista inventou a pasteurização e resolveu impasses de indústrias como a da cerveja e do vinho. Aqui também começa a relacionar contaminação por micro-organismos e doenças. Microscópios e jogos proporcionam a interação nesse ato.
ATO 3 – GERAÇÕES ESPONTÂNEAS (1859-1864)
A polêmica do surgimento dos micro-organismos: de onde vêm? Pasteur enfrenta outros cientistas e prova sua teoria. O visitante descobre como foi, passo a passo, na multimídia instalada em vitrine mágica.
ATO 4 – DOENÇAS DOS BICHOS-DA-SEDA (1865-1869)
Pasteur salva a indústria da seda, eliminando doenças dos insetos produtores, na sua primeira pesquisa em patologias animais. Maquetes, equipamentos de época e dioramas ilustram o método e as descobertas.
ATO 5 – DOENÇAS INFECCIOSAS E VACINAS (1876-1895)
A pesquisa de Pasteur das vacinas para doenças dos animais se amplia. Galinhas e carneiros recebem vacinas em experiências bem sucedidas. O cientista ganha fama mundial com a invenção da vacina contra a raiva. Um cenário de fazenda, jogos sobre as vacinas, filmes e maquetes contam essa história.
EPÍLOGO – PASTEUR E O BRASIL
Enquanto Louis Pasteur fazia a ciência avançar na Europa, os reflexos se suas pesquisas chegavam ao Brasil. D. Pedro II era um grande admirador do cientista, trocou correspondência com ele, tentou trazê-lo para o Brasil e fez uma grande contribuição para a criação do Instituto Pasteur. Foram fundados institutos de pesquisa e diversos cientistas e médicos brasileiros se destacaram na área, em especial Vital Brazil e Oswaldo Cruz.
Convidados da abertura da exposição
Pedro Hallal
Possui graduação em Educação Física (2000), mestrado (2002) e doutorado (2005) em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas. Realizou estágio pós-doutoral no Instituto de Saúde da Criança da Universidade de Londres. Atuou como Reitor da UFPel entre 2017 e 2020. É docente associado da Universidade Federal de Pelotas no curso de graduação em Educação Física e nos programas de pós-graduação em Educação Física e Epidemiologia. Coordena o EPICOVID-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil. É um dos coordenadores da Coorte de 2015 de Pelotas e do Observatório Global de Atividade Física. É um dos sócios fundadores e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde. Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências entre 2008 e 2013. É bolsista de produtividade 1A do CNPq. É editor-chefe do Journal of Physical Activity and Health.
Hugo Fernandes
Biólogo, professor e pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Possui pós-doutorado em Ecologia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), é mestre e doutor em Zoologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), bacharel licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pertence ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade da UFC e do Programa de Especialização em Comunicação Pública da Ciência da Universidade Federal de Minas Gerais (Amerek – UFMG). Lidera o Laboratório de Conservação de Vertebrados Terrestres (Converte), que desenvolve pesquisas sobre Caça, Uso de Animais Silvestres, Defaunação, com ênfase em Conservação, Etnozoologia, Mastozoologia e História da Zoologia. Atua ainda como Coordenador Científico e Coordenador de Mamíferos da Lista Vermelha de Fauna Ameaçada do Ceará e como membro do Grupo de Assessoramento Técnico do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Pequenos Felinos (MMA / ICMBio). Além disso, trabalha para a popularização da Ciência no Brasil, através do Ciente – Núcleo de Divulgação Científica da UECE, laboratório de extensão que atinge milhões de pessoas através da televisão, rádio e redes sociais. É colunista de Ciência da Jangadeiro Band News FM. Assinou textos científicos para veículos como HuffPost Brasil, HuffPost NY, Piauí, Veja e Folha de S. Paulo e é diretor do selo Science Vlogs Brasil. Desde janeiro de 2019, é Grantee do Instituto Serrapilheira.
Sílvia Maria Santiago
Médica sanitarista, formada pela Unicamp, onde cursou a residência médica em Medicina Preventiva e Social. Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutora pela Western Michigan University.
Professora Livre Docente do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, desenvolveu atividades de ensino, pesquisa e extensão no país e no exterior em ações na África e América Central. No Haiti, anteriormente e no pós terremoto imediato de 2010, compôs a Força Tarefa brasileira pelo Ministério da Saúde que trabalhou para reorganizar a atenção à saúde. Participou de ações de saúde e sociais na África do Sul e Zimbabue no programa de Saúde Comunitária da Kellogg Foundation. Atualmente é diretora da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Unicamp, com as Comissões de Diversidade Étnico Racial, Inclusão Acadêmica para a Participação dos Povos Indígenas, Combate à Violência Sexual e de Gênero, de Acessibilidade, da Cátedra Sérgio Vieira de Mello para refugiados, Observatório de Direitos Humanos. Pesquisadora na área de Saúde da Mulher, populações femininas encarceradas e populações precarizadas. Participa da Frente de Ação Social da Força-Tarefa Unicamp de combate à pandemia da Covid-19 junto às populações de maior vulnerabilidade social.
TEXTO: ASSESSORIA DE IMPRENSA