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Chuvas de outubro não garantem segurança hídrica para 2022

Foto: Valéria Hein

As simulações sobre o comportamento das chuvas e o reflexo no abastecimento das cidades da região de Campinas estão se confirmando, com precipitações abaixo de 20% do esperado em 2021, o que poderá gerar reflexos no período de estiagem do próximo ano. Apesar do mês de outubro já ter atingido a média de chuvas esperada para o mês, o fato não indica tranquilidade em relação ao abastecimento das cidades da Região de Campinas, como explica José Cezar Saad, Coordenador de Projetos do Consórcio PCJ, uma agência de fomento, cujo objetivo é recuperar e preservar os mananciais e discutir a implantação de políticas públicas voltadas à gestão da água. “Tivemos um período seco muito severo, com forte rebaixamento de água nos reservatórios e redução acentuada nas vazões dos rios, além do solo seco e forte calor, o que agravou a estiagem”.

A queda nos níveis de água do Sistema Cantareira gerou a necessidade de retomada da transposição do reservatório da Usina Hidrelétrica Jaguari, na Bacia do Paraíba do Sul, para o reservatório Atibainha do Sistema Cantareira, em Nazaré Paulista. O objetivo é reforçar o volume útil do Cantareira, em caráter excepcional, quando ele estiver inferior a 30%.

De acordo com José Cezar Saad, a medida traz um pouco de tranquilidade quanto à reserva estratégica de 10m cúbicos por segundo para os municípios atendidos pelos Rios Atibaia, Jaguari e Piracicaba, mas os outros municípios que não são atendidos por esse sistema ficarão vulneráveis se não tiverem reservatórios próprios. “E importante que esses reservatórios tenham capacidade de armazenamento para três meses. Entre os exemplos de cidades da nossa região que possuem esse sistema estão Indaiatuba, Sumaré, Santa Bárbara D’Oeste e Nova Odessa”.

De acordo com Saad, além da construção de reservatórios, há uma diversidade de ações que deveriam ser mais utilizadas como medidas preventivas para enfrentar períodos de seca. “A perfuração de poços, aproveitamento da água de cava de mineração e de chuvas, ações de redução de perdas hídricas”. Outro fator que agrava a preocupação quanto a uma possível crise hídrica no período de estiagem de 2022 é o fenômeno La Niña, um evento climático extremo, que ocorre raramente durante dois anos seguidos e após já ter ocorrido no verão passado, neste Verão o La Nina retornou, com redução de chuvas nas regiões sul e sudeste. “Nos últimos 35 anos, a repetição do La Niña consecutiva ocorreu apenas três vezes. Essa ocorrência dupla intensifica a estiagem”.

O La Niña é o fenômeno predominante durante o período José Seco, que tem duração de cerca de 40 anos e causa diminuição de chuvas principalmente nas regiões sul, sudeste e centro oeste. O especialista em Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais, Antonio Carlos Zuffo, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, tem alertado para o fenômeno antes mesmo da crise hídrica de 2014. “Esse é um esforço que estou fazendo para divulgar o que é pouco conhecido até no meio técnico. Se temos consciência de que ele existe, podemos nos planejar melhor”. Além de São Paulo, o José Seco foi detectado também no Ceará e Paraná, além de países como Argentina, Bolívia, Austrália e Japão.

Em Campinas, esse fenômeno foi estudado por Zuffo a partir de dados do IAC, que tem uma série centenária. Ele mantém especial empenho em divulgar esse fenômeno como uma forma de alertar autoridades e opinião pública. “Desde 1800… o IAC tem esses dados e você consegue ver esse sobe e desce na série histórica, que consta em relatório entregue ao PCJ antes da crise hídrica de 2014”. Com a chegada do Verão há uma consequente redução do interesse pelo tema. No entanto, quando o assunto é segurança hídrica é preciso se antecipar ao problema, com políticas públicas preventivas.

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