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Sanasa garante abastecimento, mas especialista se preocupa com inverno de 2022

Foto: Valéria Hein

Em Campinas não há um sistema próprio de armazenamento de água bruta, o que a torna a cidade dependente do Sistema Cantareira em períodos de estiagem prolongada, como ocorreu em 2014. Campinas é abastecida pelos rios Atibaia e Capivari, sendo o Atibaia, responsável por 95% do abastecimento. Existem estudos para a construção de um reservatório de água bruta através do barramento do Rio Atibaia, que, segundo a Sanasa, estão em andamento.

Outra solução, do Governo Estadual, são os reservatórios no Rio Jaguari, em Pedreira e no Rio Camanducaia, em Amparo, que criam uma reserva hídrica estratégica na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Só que para este sistema abastecer Campinas é preciso a construção de uma adutora, sem prazo para conclusão.

O próprio presidente da Sanasa, Manuelito Magalhães, admite a necessidade de reduzir a dependência do Rio Atibaia. “Não podemos continuar dependentes do Rio Atibaia. Precisamos pensar fora da caixa. Precisamos promover interligações de bacias para obter mananciais alternativos e dar utilidade às represas de Pedreira e Amparo”.

No entanto, mesmo com a seca que atinge o Estado de São Paulo, a Sanasa garante que Campinas não terá problemas de abastecimento neste ano. De acordo com Manuelito Magalhães, a outorga do Sistema Cantareira, que estabelece o mínimo de 10m3/s de vazão no Rio Atibaia em momentos de crise, deixa Campinas numa situação de relativa tranquilidade. “Essa outorga de 10m3/s é uma garantia para Campinas”.

Não é possível afirmar se a boa notícia vale também para o inverno de 2022, que vai depender do comportamento das chuvas neste verão. Mas, as perspectivas não são boas, de acordo com o especialista em Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais, Antonio Carlos Zuffo, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp.

Ele está preocupado com o período de estiagem de 2022, já que neste verão está previsto o fenômeno La Niña, caracterizado por baixas precipitações nas regiões sul e sudeste. “Quando a La Niña ocorre, ela afeta o sul e sudeste com redução das precipitações em relação à média”. Zuffo analisa que a dependência de Campinas do sistema Cantareira gera preocupação em períodos com pouca chuva. “Como Campinas não tem reservatório de água, com captação direto do Rio Atibaia, dependemos muito da vazão do Rio e das liberações do sistema Cantareira”.

De acordo com Antonio Carlos Zuffo, estamos sob o efeito de um sistema conhecido como José Seco, com duração de cerca de 40 anos, que causa diminuição de chuvas principalmente nas regiões sul, sudeste e centro oeste. Com isso, os períodos sem chuvas continuarão frequentes e mais constantes do que no chamado José Úmido, que foi de 1976 a 2012.“A chuva de um ano para outro fica bem variável, mas na média se mantém em 10% a 15% inferior que ao período de 1976 a 2012, quando ocorriam aqueles episódios de grandes enchentes, quando o Rio Tietê, em São Paulo, por exemplo, extravasava de 3 a 4 vezes na semana, o que já tem quase 10 anos que não ocorre”.

Apesar de não haver registros precisos de períodos anteriores,  Zuffo conseguiu reunir dados antes mesmo da crise hídrica de 2014. Este estudo consta de um relatório divulgado pelo Consórcio PCJ, na época. Se esse fenômeno fosse mais conhecido para além dos meios acadêmicos, os investimentos em segurança hídrica poderiam ser mais efetivos. Zuffo cita como exemplo a construção de reservatórios. “No período de chuvas, o incremento das vazões pode ser armazenado nos reservatórios para usar no período mais seco.”

Vivemos um período em que a quantidade de chuva vai variar a cada ano, mas é importante que a população e órgãos públicos se conscientizem que vai chover menos na nossa região por pelo menos 30 anos, com necessidade de mais investimentos em segurança hídrica, além da colaboração de cada cidadão para o uso consciente desse bem tão precioso.

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