A situação de suspender o recebimento de novos pacientes devido à superlotação vivida em unidades de saúde de Campinas não é novidade. Desta vez foi o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, que mais uma vez não está recebendo novos pacientes, mas o hospital PUC-Campinas também relatou problemas devido ao excesso de pacientes pelo SUS.
O Médico, Pesquisador e Professor titular de Cardiologia – PUC Campinas, José Francisco Kerr Saraiva, que foi secretário de saúde de Campinas entre 2006 e 2011, afirma que este é um problema nacional, que acontece muito em regiões metropolitanas, e na pandemia a falta de leitos ficou mais evidente. “Não aumentou a superlotação por conta de casos de dengue ou por conta de covid, mas na realidade nós vivemos com o copo quase transbordando, e esse é um problema, de novo, é nacional, aonde oferta de leitos muitas vezes ela está no limite, ou assim, abaixo do limite das necessidades e demandas.”
Segundo ele, muitos fatores contribuem para isso. Um deles é o fato de muitos brasileiros terem perdido o acesso a planos de saúde, o que aumentou o número de pacientes precisando de atendimento pelo SUS. O ex-secretário afirma que solução a curto prazo para minimizar o problema seria reorganizar os atendimentos realizados em cada unidade. “Será que aqueles pacientes que estão lá não poderiam estar em hospitais de atenção primária e secundária? Uma melhor organização é lançar mão de processos de regulação mais aprimorados. Isso pode ajudar, não resolve o problema, mas eu acho que diminui muito.”
Ele afirma ainda que os casos, a medida que vão aumentando a complexidade, acabam superlotando os hospitais de uma complexidade maior. Muitos pacientes de infarto e AVC acabam esperando em UPAs, contribuindo para a superlotação.
Quanto à uma solução mais duradoura, o médico afirma que construir um novo hospital metropolitano, como deseja o Conselho da RMC, ajudaria, mas isso por si só não resolveria. “Não, é claro que é muito importante aumentar o número de leitos, isso não discuto, mas isso tem que ser feito juntamente com qualificação, com capacitação de equipes pra que esses casos possam ser tratados numa instância, vamos assim dizer, de menor complexidade, dando os leitos praqueles pessoas que precisam de alta complexidade. Os grandes acidentes, as cirurgias cardíacas.”
O ex-secretário disse ainda que se isso não for feito, os gestores da saúde estarão “enxugando gelo”, ou seja, tendo ações que não terão efetividade.