Todo o país segue acompanhando a situação no Rio Grande do Sul. As enchentes afetaram mais de de 80% do estado, e provocaram mais de cem mortes. E apesar da distância para os demais estados de fora da região Sul, os acontecimentos deverão impactar economicamente todo o Brasil a partir das próximas semanas, devido às perdas nas produções agropecuárias do estado. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país, gerando 70% de toda a produção nacional. Cerca de 80% da área plantada de arroz no estado já estava colhida antes das enchentes, mas há problemas logísticos para o transporte do produto.
O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o país poderá importar até 1 milhão de toneladas de arroz de países do Mercosul para compensar as perdas com as enchentes. A medida busca evitar o desabastecimento e também segurar o preço do arroz no país. Mas para Thiago Bernardino, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Esalq/USP de Piracicaba, mesmo com a medida, é possível que o preço do arroz suba, pois o preço depende de fatores a serem negociados. “O mercado é formado por oferta e demanda, quando eu tenho uma demanda muito forte, evidentemente que o preço sobe. O grau do impacto a gente não consegue prever, é claro que o escoamento de produção vinda do Mercosul pode sim ajudar, mas não vai ser o que vai realmente amenizar todo esse processo”.
Outras culturas também foram afetadas, como a soja. O Rio Grande do Sul é responsável por 14% da produção de todo o país, e entre 1 e 2 milhões de toneladas não poderão ser colhidas, e isso pode ter um impacto diretamente no preço de variados produtos de origem animal. “Se a gente pensar no farelo de soja, a gente tá falando que 20% da ração em média pra produzir 1kg de frango, pra produzir 1kg de suíno, pra produzir um ovo, e até mesmo pra compor a produção de gado confinado e também da produção do leite, depende do farelo de soja, então depende dessa chegada na fazenda e que não vai chegar, então eu tenho esse impacto desse curto prazo”, diz Bernardino.
E o impacto também pode se dar diretamente pelas perdas na pecuária. O estado é responsável por 11% da produção nacional de frango, e de 20% dos suínos. “Animais vão morrer de fome, eu não vou conseguir alimentar, principalmente frango, suíno e a galinha que vai botar ovo, e a carne bovina não vai estar alheia a este movimento, substitutos diretos, então quando um preço sobe ele puxa os demais concorrentes”, analisa o pesquisador, que afirmou ainda que o impacto deverá começar a ser sentido pelo consumidor já a partir da segunda quinzena de maio, mas principalmente em junho e julho deste ano.