Um médico, neurocirurgião, de 73 anos, está sendo investigado pela Polícia Civil por assédio sexual. Ao todo, são quatro inquéritos criminais instaurados pela 1º Delegacia de Defesa da Mulher, em Campinas. As investigações partiram de denúncias de mulheres da região. Por se tratar de crimes sexuais, os processos correm em segredo de justiça. A Polícia Civil deve ouvir em breve os diretores das unidades de saúde que o homem atuava.
Em Campinas, o médico trabalha no HC da Unicamp, onde também atua também como professor da universidade. Ele atende ainda Hospital Irmãos Penteado. E já fez atendimentos em uma clínica particular, que fica na Rua José Paulino, no Centro. Atualmente, o prédio foi colocado à venda.
Os boletins de ocorrência foram registrados em 2015, 2021 e 2023. Os abusos teriam acontecido na clínica e no Hospital Irmãos Penteado.
O médico é natural de Natuba, cidade do agreste paraibano. Ele já foi candidato a Deputado Estadual na Paraíba, em 2018. Por esse motivo, ele tem registro no Conselho Regional de Medicina da Paraíba e de São Paulo. O registro profissional dele foi suspenso temporariamente desde o dia 20 de maio deste ano pelo Cremesp. Porém, não foi informado detalhes da decisão.
O investigado também já foi processado por danos morais. O processo foi movido por uma enfermeira, que trabalhou com ele durante uma cirurgia no Hospital Irmãos Penteado. Ele foi condenado a pagar uma indenização de R$10 mil para a enfermeira.
DENÚNCIAS
Maio/ 2015 – Uma moradora de Americana registrou o BO na Delegacia de Defesa da Mulher de Santa Bárbara d´Oeste.
Ela disse acompanhava a sogra em uma consulta no Hospital Irmãos Penteado, quando o médico pediu que ela o acompanhasse até uma sala para ver o resultado dos exames.
A denunciante disse à polícia que o neurocirurgião pegou os braços dela, colocou em nos ombros dele e disse “me abraça gostoso”. Em seguida, disse “simpatizei com você desde o instante que chegou, você tem os olhos bonitos”. Segundo a denunciante, o médico a segurou pelo pescoço e tentou beijá-la.
O neurocirurgião forçou para que ela ficasse, mas a mulher conseguiu sair. Ele continuou segurando o braço da vítima e dizia “não precisa ficar brava porque eu quero te fazer um carinho”.
Maio/2021 – Uma moradora de Campinas registrou boletim de ocorrência por importunação sexual contra o mesmo médico na delegacia de defesa da mulher.
A vítima disse que esteve na clínica dele para uma consulta, quando o médico a mandou tirar a máscara e disse “você é muito bonita, uma princesa”.
Ela estranhou o fato dele fazer muitas perguntas pessoais e, no fim da consulta, o médico abraçou e beijou a paciente nos dois lados do pescoço e depois na testa.
2023 – O médico foi alvo de outras três denúncias de importunação sexual. As vítimas registraram boletins de ocorrência, em Campinas, no 5º distrito policial e na delegacia da mulher, e também na delegacia de Paulínia.
Em um dos casos, a vítima relatou que no ano anterior, 2022, o neurocirurgião tentou agarrá-la e beijá-la dentro de uma clínica do bairro Botafogo, mas a vítima conseguiu se desvencilhar.
Em outra data, quando voltou ao local para acompanhar a mãe em uma consulta, o médico disse “não esqueça que você está me devendo algo”.
A mulher disse à polícia que outras duas mulheres da família também foram vítimas da importunação sexual do médico.
Agosto/2023 – Uma paciente relatou que o neurocirurgião se despediu dela com um beijo no rosto e, de surpresa, um beijo na boca. E continuou tentando beijá-la, dizendo que ela era bonita.
No mês seguinte, outra mulher foi até a delegacia de Paulínia denunciar o médico. Ela disse que durante consulta na clínica dele, o neurocirurgião a beijou e tocou em seus seios, e mostrou a genitália para ela.
A vítima passou por uma cirurgia com o médico no Hospital Irmãos Penteado. Após a cirurgia, ele deu a entender que havia tido conjunção carnal enquanto a paciente se recuperava da cirurgia.
Ainda segundo a mulher, durante os quatro dias de internação, ela foi assediada pelo médico, que passava as mãos na genitária, nádegas e seios dela. E que os fatos foram relatados para uma enfermeira do hospital.
O que dizem os hospitais
O Hospital de Clínicas da Unicamp disse que acompanha o caso com atenção, respeitando os trâmites legais e a autoridade dos órgãos competentes.
Segundo o HC, o médico atuava eventualmente no Caism, Hospital da Mulher da Unicamp, mas em casos de emergência e sempre acompanhado de médicos residentes.
A unidade informou também que ele pediu férias e, depois deste período, será afastado até a conclusão do processo administrativo ligado ao profissional.
O Hospital Irmãos Penteado informou que não pode comentar sobre o caso por impedimentos de ordem legal, conforme orientado pelo Departamento Jurídico.
Disse ainda que, quando recebe denúncia dessa natureza, toma providências previstas em lei e em suas normas internas. Além de comunicar autoridades competentes.
O Cresmesp disse que o médico ainda pode recorrer da suspensão do CRM.
O que diz a defesa do médico
A defesa técnica do Médico Neurocirurgião, diante de recentes reportagens veiculadas na imprensa, vem a público esclarecer o seguinte:
Os fatos mencionados nas matérias é de conhecimento do médico e de sua defesa, que, desde o início, têm adotado todas as providências legais cabíveis para o esclarecimento do caso.
O médico nega as acusações que lhe foram imputadas e tem mantido postura transparente e colaborativa perante as autoridades competentes, sempre com respeito à Justiça, à verdade dos fatos e às partes envolvidas.
Como demonstração de compromisso com a lisura da apuração, o médico afastou-se, totalmente, das funções profissionais relacionadas aos episódios sob investigação, visando preservar a integridade do processo e assegurar um ambiente isento e sereno para o seu curso.
O investigado já prestou esclarecimentos formais à autoridade policial, apresentou documentos relevantes, indicou testemunhas e sugeriu diligências capazes de comprovar a regularidade de sua atuação profissional.
A defesa confia plenamente na atuação responsável das instituições e na rigorosa observância dos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e da presunção de inocência – garantias essenciais à imparcialidade do sistema de Justiça e à proteção contra julgamentos precipitados.