Estudo da Unicamp aponta caminhos para combate ao feminicídio

Foto: Divulgação/ Polícia Militar

Um estudo desenvolvido na Unicamp levantou o perfil dos casos de feminicídio ocorridos em Campinas nos últimos anos. De acordo com a pesquisa desenvolvida pela Dra. Monica Caicedo-Roa, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, para sua tese de doutorado, formas de violência extrema contra a mulher, individual ou coletiva, são preveníeis e intoleráveis. Foram cinco anos estudando a fundo casos de feminicídio com o objetivo de identificar formas de prevenir novos crimes contra a mulher, em um cenário de números crescentes e alarmantes no Brasil.

Na pesquisa foram analisados 24 casos de crimes contra a mulher ocorridos em Campinas entre 2018 e 2019, utilizando métodos da epidemiologia e perspectiva interdisciplinar. A partir do levantamento de casos publicados na mídia, a pesquisadora juntou os dados das autópsias clínicas, obtidos no Instituto Médico Legal, às informações das chamadas autópsias verbais, método que consiste na realização de entrevistas com parentes, amigos e conhecidos das mulheres assassinadas, buscando, de alguma forma, dar voz às vítimas, trazendo a história de vida de cada uma.

No trabalho foram identificadas algumas características que podem ajudar na prevenção de novos casos, em especial, duas variáveis importantes: mulheres que, nos 30 dias anteriores ao crime, sofreram algum tipo de agressão física; e mulheres que vêm de outros estados, e ficam longe da chamada estrutura de apoio, composta por familiares e amigos. “É necessário ter um pouco mais de consciência de as mulheres estarem alerta para conseguir acessar apoio rapidamente, a gente não tem tempo de esperar agressões mais severas para procurar ajuda, é necessário identificar essas agressões e violências nos primeiros momentos”, destaca a pesquisadora.

Segundo Monica, há muitos casos em que há um paradoxo, pois muitos dos feminicídios ocorrem justamente após a mulher tentar terminar o relacionamento após sofrer agressões. Seis dos 24 casos estudados na pesquisa, o equivalente a 25%, ocorreram porque a mulher queria terminar um relacionamento violento.

Diante deste cenário, a pesquisadora afirma que além do trabalho que há a ser feito com as vítimas, há também muito trabalho a ser realizado com os agressores, a fim de se encerrar este ciclo violento. “Quando a gente as vezes consegue tirar uma mulher desse ciclo de violência, o agressor vai atrás de outra mulher e com ela consegue repetir o ciclo, pensando em termos de saúde coletiva, para a gente não faz sentido só proteger as mulheres e não trabalhar com os agressores, pois são eles que continuam com essas violências”, explica Monica.

Algumas das soluções apontadas para as mulheres é dar condições para que ela consiga sair situações em que o agressor está no comendo, como dar alternativas de trabalho, por exemplo, para que ela não dependa financeiramente do companheiro ou ex-companheiro.

O estudo “Fatores de risco para feminicídios na cidade de Campinas: revisão de literatura, estudo caso-controle espacial e análise qualitativa”, conquistou dois prêmios: o 1º lugar no Prêmio Tese Destaque da Unicamp 2022, na área de Ciências Biológicas e da Saúde, e o Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Vladimir Herzog/Unicamp 2023, que está em sua terceira edição.

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