Contar a historia de uma cantora americana de jazz do século passado que se apresentava com uma gardênia no cabelo parece algo romântico. O amor como tema principal e o charmoso visual das décadas de 30 , 40 e 50 dão um clima de nostalgia.Pois esqueça toda essa aparente inocência e mergulhe na realidade do racismo contra os negros, da pobreza, da prostituição e das escolhas que fizeram parte da turbulenta vida de Billie Holiday.
Ao contrario de muitos artistas que começam a desenvolver suas habilidades na infância Billie Holiday só foi ter um pouco de intimidade com a música já na adolescência quando ela e a mãe moravam numa casa de prostituição em Nova York . Depois de ser reprovada em um teste para dançarina um pianista estimulou Billie a cantar. Mas até a esse ponto muita coisa já havia acontecido na vida de Eleanora Fagan Gough que ficou famosa ao unir o primeiro nome de uma atriz com o sobrenome do suposto pai.
Imagine uma criança negra nascida em 1915 nos Estados Unidos na mais absoluta miséria, filha de uma adolescente solteira expulsa de casa e abandonada pelo pai, criada nesse cenário com ajuda de uma tia Billie Holiday foi vitima de abuso sexual por parte de um vizinho . Depois desse terrível episodio aconteceu a mudança de Baltimore para Nova York cidade onde ela e a mãe chegaram a passar pequenos períodos na cadeia por conta da atividade no bordel.
Ter passado por tanto sofrimento talvez tenha influenciado Billie Holiday a colocar sentimento na hora de cantar algo comum para os homens no blues, mas fora dos padrões no jazz , ainda mais para uma moça que dava os primeiros passos na carreira artística na década de 30. Um toque de sensualidade na pronuncia de algumas palavras era outra característica que também incomodava os conservadores .
Billie Holiday chegou a se apresentar com nomes importantes do jazz como Louis Armstrong e Duke Ellington alem de ter sido vocalista de duas big bands. Mas enquanto se desenvolvia como artista enfrentava o racismo, em alguns hotéis precisou usar o elevador de serviço e passar pela cozinha para ter acesso ao palco com tamanha discriminação não é de se estranhar que um de seus maiores sucessos seja um hino entre as canções de protesto.
Strange Fruit é um poema escrito por um professor judeu que ficou indignado ao ver negros enforcados numa arvore daí o título fruto estranho . Musicado ele se tornou um clássico obrigatório no repertório de Billie Holiday , mas os problemas enfrentados pela cantora não foram causados só pelo racismo. A partir de década de 40 por conta do vício em bebidas alcoólicas e drogas ela teve cancelado um cartão que permitia se apresentar em cabarés de Nova York o que restringiu seu campo de trabalho . E com a saúde debilitada Billie Holiday morreu em 1959 com apenas 44 anos.
Numa indústria fonográfica que ainda estava se formando Billie Holiday lançou compactos e LPs por pelo menos 6 gravadoras, passou por dois casamentos controversos e não teve filhos. A biografia lançada por ela um pouco antes de morrer serviu de base para o filme estrelado por Diana Ross no começa dos anos 70 a história de uma vida conturbada levada as telas dos cinemas rendeu um status de mito e uma fama que ela não teve enquanto estava viva, as homenagens a Billie Holiday todas póstumas comprovam isso.
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produção
Walmir Bortoletto
edição
Paulo Girardi